Depois do tédio

Tédio nosso de cada domingo, que vem e se vai de mansinho escorregando por entre a vontade danada de algo diferente no intervalo dessas trocas frequentes de canal ou, quem sabe até, no breve instante em que fechamos os olhos pra voltar lá atrás, mesmo sem querer. Tédio [para-que-te-quero] que teima em ser só meu. E aí eu corro pro bloco de notas e deixo escorrer pelas pontas dos dedos alguma coisa quente que passeia dentro de mim. Alguma coisa que nem eu mesma sei o que é. O céu rosa alaranjado faz um véu sobre o brilho tímido das estrelas que, aqui e ali, disputam uma vez no espetáculo do cair da noite; e de repente a chuva vai caindo bem de leve, sem pressa e ritmada num passo tranquilo de quem não quer ir, não agora. O vento vai soprando devagar fazendo dança nos fios de cabelo que caem desarrumados do meu coque improvisado e, brincando atrás da minha nuca, vai levando embora esse medo, todo meu, de pensar. No apartamento do lado, meu vizinho arrisca umas melodias doces no v...