(e)ternas lembranças...

Saudades de quando minha única preocupação era olhar pro céu de cinco em cinco minutos pra ver se ia ter sol no finzinho da tarde. Infância. Saudades daquele dia frio e chuvoso quando deitei na rede com meu pai e cantamos o dia todo. Saudades da minha mãe correndo ao redor da casa pra me pegar (ela sempre me pegava no final). Nostalgia. Saudades do Jack, meu pastor alemão que me dava a pata e me ouvia conversar parecendo me entender. Saudades do meu primeiro bichinho de estimação, um pintinho chamado Dicky (meu irmão e eu fizemos um funeral completo quando ele morreu). Lembranças. Saudades da época em que minhas amigas eram mais sinceras e conversávamos sobre bonecas, não sobre homens, quando as amizades se desfaziam pela manhã e faziam as pazes à tarde. Simplicidade. Saudades de brincar de amarelinha na calçada larga de casa. Saudades do meu sorriso meigo e dos meus cachinhos quando tinha cinco anos. Inocência. Saudades de quando fazia minha casinha de boneca debaixo da mesa da cozinha e lá dava tudo certo, os casais viviam felizes para sempre com seus filhinhos, gatos e cachorros enquanto minha mãe fazia o almoço. Debaixo da mesa o meu mundo era perfeito, o amor não era complicado. Esperança. Saudades da pasta verde que eu levava pra escola e das bolinhas que desenhava no caderno de caligrafia quando, ainda, não sabia escrever. Saudades de fingir que fazia tricô com um lápis na minha mochila durante a aula. Saudades de tomar chá de cidreira todas as noites na casa da minha tia, saudades do bule azul. Saudades de quando chegava da escola e meus pais gravavam eu tagarelar sobre o meu dia (eu sempre falei demais).  Saudades de passear com meu pai de fusquinha amarelo. Saudades de sentar no batente da porta de casa com minha mãe. Saudades de tudo que vivi de forma intensa quando criança, obrigada. Infância, bem que você poderia durar mais anos.

Mas, não. Aí a gente cresce, inevitavelmente. Às vezes, antes do tempo. E a vida vem, dura/chata e te mostra o trabalhão que dá ser adulto, te mostra o quanto tem que cair e levantar se quiser vencer na vida. É, porque a vida é uma batalha. Uma batalha individual, você é o seu próprio oponente! Mas o bom é que, mesmo com tanta dureza, você aprende. A gente aprende a ficar leve e a deixar que a vida nos carregue, assim como fazíamos quando crianças. A gente aprende a dispensar certos pesos, jogar fora as botas cansadas e caminhar de forma mais aliviada e serena. É, a gente cresce, mas a nossa alma não. Nossos sonhos de criança ainda vivem e são eles que nos despertam para o lado simples da vida, é o que torna o mundo um pouco mais bonito, colorido e terno.
Não vá dormir sem agradecer à criança que mora dentro de você. É ela que não deixa morrer a esperança que você ainda teima em ter na vida, no mundo e, principalmente, nas pessoas!

S.


E, sim, esse é um texto totalmente pessoal.

Comentários

Mariana Penna disse…
Puxa, postei um texto com a mesma idéia ontem.

Crescer é duro, mas tomara que valha a pena.

Bjãooo!!

Postagens mais visitadas deste blog

Que bom que você veio..

Apenas

Das verdades mal (ditas)