Algemar a tristeza?
E
há dias que o dia acorda quieto perdido no azul descolorido, há dias que nenhum
batom combina com sua pele e o lápis borrado sob os olhos indica que não
adianta fugir do choro da noite passada. Dias em que minha cama larga é
estreita pra preencher tanto vazio. Eu nunca tive o dom de aprisionar
sentimento nenhum, nem mesmo os ruins. Até mesmo a tristeza merece um pouco de
liberdade. Não tenho talento pra quarto fechado, não tenho talento pra algemar
tristeza. Ninguém é de ferro, uma hora extravasa, é preciso beber alguma coisa
quente ao pé da janela e passear os dedos pela beirada do copo, como quem anda
em círculos – como quem sabe que precisa andar em círculos. Aí é hora de vestir
a tristeza e curtir sua lamúria, é hora de dar voz ao que andou tentando silenciar.
É preciso que a tristeza grite, chore e transborde em salgadas palavras – sem
nexo, letras tortas em papel borrado. E o dia segue sem cor e sem barulho no
fundo dos travesseiros e dos pensamentos que vão e voltam ao som de todas
aquelas músicas-feitas-para-chorar – porque é assim mesmo, quando estamos
tristes, sempre ouvimos aquelas benditas músicas. É assim que eu faço, assim
que eu sempre fiz. Mas, lavado o coração é hora de lavar o rosto, esconder a
cara amassada em um tom leve de blush e partir pra vida. Afinal, o mundo lá
fora continua a caminhada. Viver a tristeza – e senti-la intensamente – renova.
Libertar os monstros de dentro da gente, mesmo que seja por pouco tempo, nos
liberta. E o início da noite vem com estrelas brilhando no céu e iluminando os
pensamentos. O vento seca as lágrimas e a tristeza segue seu rumo, liberta,
enfim - nem que seja só por mais uma noite. – Simone Oliveira.
Pauta
da segunda, lá no Blogueiros :*
Comentários
Lindo, Si!
E você tem toda razão: 'Viver a tristeza – e senti-la intensamente – renova.'
A gente tem que aprender a viver e conviver com cada capítulo da nossa vida, viver até a última gota o sentimento pra que a gente se renove por dentro.
Adorei demais Simone!
Beijo meu.