Reencontro

Sempre fui relutante ao romantismo. O amor e eu sempre travamos uma batalha interna entre quereres, vontades e ceticismo – um passo dado e dois voltados. Mas, naquelas circunstâncias foi inevitável o coração não bater um pouco mais acelerado, afinal, te ver me pegou de surpresa. Naturalmente, percebi que minha respiração estava presa. Ele me olhava com cara de sol no meio da noite quente, sorriso entreaberto e olhos semicerrados. Me olhava com cara de não-adianta-você-fugir. Era impossível não desejar mergulhar no mar daqueles olhos que, nesta noite, brilhavam convidativos. Estávamos sentados ali mesmo, lado a lado, coração na boca, palavras nos olhos. Sutilmente, você sorriu - seu sorriso no canto da boca sempre foi o meu preferido, você sabia disso. Me chamava pra sair e eu, sem relutância ou pudor, desenhava um sim no olhar. Você não mudou nada. Continuava galante como sempre. Conhecia todos os meus pontos fracos, sabia exatamente o que fazer. Levantou-se, pôs as mãos nos bolsos e eu reparei na sua camisa risca-de-giz meio desabotoada, a noite estava mesmo quente. Um de seus cadarços estava desamarrado, seu jeans escuro-desbotado. Mesmo depois de tanto tempo você ainda mantinha aqueles traços e aquelas manias que eu detestava. Era singular o seu gesto de passar os dedos entre os cabelos quando estava nervoso – fazia isso agora, enquanto continuava a me olhar sem nada dizer. Seu despojo sempre me encantou – por mais que eu não admitisse. Estendeu-me a mão e me ergueu abruptamente. Cara a cara, olhos nos olhos – seus olhos estavam mais verdes à fraca luz do poste. Cheguei mais perto e senti a sua respiração. Ofegante. Sua boca dançava pra mim, sua barba por fazer me roçava o rosto, a essa altura eu já não conseguia mais pensar. Seus braços, que continuavam fortes, apertaram-me um pouco mais, suas mãos – quentes – pousaram um pouco mais abaixo da minha cintura. Embriaguei-me com o seu perfume e o tempo parou.
Já não sei ao certo de que forma cheguei àquele quarto, não sei qual caminho percorremos, perdi a conta de quantas taças de vinho nós bebemos, não sei quantas máscaras joguei fora ao longo da noite, não sei quantas eu fui para ser eu mesma – eu pensava na varanda às cinco horas e dez minutos daquela manhã de domingo em meio às garrafas e roupas desalinhadas pelo chão, enquanto aquele corpo, outrora extasiado de pecados, dormia feito um anjo doce e sereno. Eu já não lembro mais como te encontrei. Tampouco, sei em que tempo te perdi. Mas, eu sei que ainda cabemos em um reencontro. Ainda caibo em teu abraço. A minha paz amanheceu junto contigo e há de adormecer para sempre em teus braços. - Simone Oliveira

Comentários

Nagylla Castelo disse…
perfeito!!!
As ultimas frases então: Ainda caibo em teu abraço. A minha paz amanheceu junto contigo e há de adormecer para sempre em teus braços!!!
Linda história... Ameii!
disse…
Delicioso e intenso reencontro.

Beijão
Chelle disse…
Amei...ah pra falar a verdade
amo tudo que vc escreve !!!
Beijos Linda e um ótimo Fds
Gabriele Santos disse…
Obrigada por escrever este texto e obrigada universo para conspirar para que eu lesse RsRsRs.
Acho que perfeito o define e não sei mais que palavras usar para te parabenizar.
ADOREI mesmo *-*
Isso é amor perfeito: "A minha paz amanheceu junto contigo e há de adormecer para sempre em teus braços. "
O amor reencontrado tende a ser mais forte e intenso, como nessas tuas linhas.


Lindíssimo texto Simone. Lindo, lindo, lindo.
Simone Oliveira disse…
Obrigada, vocês, por virem até aqui e comentar! E mais obrigada ainda por terem gostado de verdade. Fico bem feliz! :)
Gislene Simi disse…
Que lindo,vivenciei cada momento....o encanto,a magia me facinaram,o amor perfeito ...é assim que todos imaginamos!Lindo .Adorei!
Esse texto é tão encantador Si!

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