Se fosse feito filme

Se minha vida fosse um filme seria um desse de Almodóvar e eu encontraria meu grande amor na esquina da padaria e ele me amaria de cara, mesmo com o cabelo bagunçado e a cara amassada às seis da matina. Ele não ia reparar na minha blusa de algodão já meio surrada que eu só uso pra dormir – e ir até a esquina quase toda manhã. Mas eu ia reparar no seu moleton escuro e nas suas mãos enfiadas nos bolsos da bermuda. E ia reparar também nos seus olhos, aqueles que eu já tinha visto em algum lugar. Se minha vida fosse um filme, eu seria a mocinha ferrada que só procura um amor e um pouco de paz e ele, ah, ele seria aquele moço que anda passeando pelos meus sonhos e brincando de esconde-esconde. E aí nós conversaríamos ali na pracinha da frente até o sol esquentar e eu me dar conta de que perdi a hora do trabalho e voltava pra casa sem os pães - e sem seu telefone. Depois eu me sentiria idiota e, claro, ele jamais apareceria depois daquela manhã cafona. Que nada! Ele iria reaparecer sim, lá na fileira do meio do cinema e eu nem tinha percebido ele ali, me olhando feito bobo. Se minha vida fosse mesmo um filme nós nos casaríamos em pouco tempo e viajaríamos pelo mundo antes de fixarmos nosso lar em algum lugar doce e cheio de flores e perfume.

Mas aí eu ainda uso de vez em quando aquela blusa de algodão, ainda vou desgrenhada até a padaria e ainda vivo me ferrando toda vez que esbarro no tal do amor. Ele? Ele deve andar por aí, com seu moleton escuro, as mãos nos bolsos e a cabeça na lua como sempre. Porque minha vida não é um filme e a gente ainda não se encontrou.

É, minha vida não é mesmo um filme, mas a gente ainda vai se encontrar...