Teu corpo é meu texto mal traçado
Olha, não sou boa nesse troço de massagens. Só consigo, no
máximo, deslizar meus dedos em movimentos circulares pelo seu trapézio de-li-ne-a-da-men-te
definido. O que já é grande coisa, levando em consideração as tantas distrações
que encontro no caminho. Mas, na verdade, eu sei bem que é isso – e somente
isso – que você quer e precisa: que eu me distraia. Ai, ai, como se precisasse
você querer.
É. Porque existe uma linha invisível que me puxa – sem
relutância, diga-se de passagem – até você. Mas, me diz, que tipo de isca você
usa que sempre me atrai e me faz morrer pela boca – sua boca – umas 859 mil
vezes sem cansar da brincadeira? Que tipo de segredo você guarda aí, por trás
desse coração de pedra? Fale-me mais sobre essa sua capacidade de me
hipnotizar. Deve ser divertido.
Te olhando assim, quase consigo te ler – só que não. Por que
existe um mistério que te envolve e impregna, feito aquele seu perfume
amadeirado que sempre fica na minha roupa e na memória. Você me confunde, me
enfeitiça, me embaralha, me bagunça, me faz perder a voz, os sentidos e o jeito
com as palavras. E aí eu me perco aqui por entre as linhas e já nem sei mais do
que falo, se você me olha com esses olhos de mar.
Tua silhueta, à meia luz, é o desenho turvo do que eu, nitidamente,
poderia chamar de perfeição. É meu guia preferido de ‘Como se perder em 3, 2...’
Aposto que Deus, enquanto te rabiscava, estava pensando em mim. Cada traço,
cada linha do teu corpo parece ter sido minuciosamente desenhada em preto e
branco, pra eu colorir como quiser. Se pudesse, te colocava num pedestal no canto
esquerdo do meu quarto – tá, eu não posso. Passaria o dia inteiro te olhando,
não tivesse tantas outras coisas – chatas – pra fazer.
Sabe, às vezes fico pensando nesses nossos desencontros,
nessas voltas que o mundo dá e joga a gente pro lado oposto – isso de se perder
quando devia se encontrar e vice-versa. Já não sei mais se isso é o que nos
afasta ou se é isso que nos atrai. Já não entendo mais a ordem das coisas
quando você está muito perto – bem perto – de mim. Mas, já sei que existem dois
ímãs implantados em algum lugar dos nossos corpos e, por mais que a gente tente,
ficar longe vai ser sempre impossível.
Você é tudo que eu sempre quis, só que de outro jeito.
Entende? Teus detalhes adicionais te fizeram, na verdade, ser melhor do que eu
imaginei e teus defeitos passaram a ser o molho de mil chaves que me prendem
atrás dessa porta que eu não quero mais abrir. Eu poderia ir embora quando eu
quisesse, mas já não sei se quero. Eu poderia não querer pagar pra ver, mas eu
quero. Porque agora já é tarde, ou cedo, ou é agora, já. De nada eu sei. Teu
corpo é meu texto mal traçado e, em cada linha tua, eu quero [re]escrever em
braile a minha poesia suja, cega, surda, muda e sem nexo.
Comentários
Esse texto é tão meu que eu tive que mostrar a pessoa para a qual ele poderia/deveria ter sido escrito.
http://osonhodeumaflauta.blogspot.com.br/
~b l o g~ • • • Fanpage • Twitter • Google+
Bjos
Teu blog é lindo!
Vem conhecer o meu:
leiakarine.blogspot.com