De ontem em diante

A gente tem mania de só querer ver o que quer ver. Foi isso que eu fiz
por muito tempo. Mas, ainda ontem, do alto da escadaria, com uma noite linda descortinando
à frente, eu pude ver mais do que sua falta, seu lugar. Eu vi a vida e o mundo
à volta - lindo, por sinal - gargalhando contra o vento. De repente, tudo
pareceu maior e muita coisa perdeu o velho-sentido-de-sempre diante da
imensidão que nos cerca, dando lugar a outros significados e outras vontades.
Um dia a gente se dá conta de muitas e muitas coisas que outrora não
tinham tanta importância e, também, de tantas e tantas outras que tinham importância
demais. Um dia, pode até demorar, mas a gente consegue enxergar muito além do
que apenas desejamos ver e, enfim, nos abrimos para tudo que, de melhor, possa
vir.
Difícil dizer não quando se quer dizer sim, difícil ficar longe quando
se quer estar perto, muito perto. Mas, na vida, situações difíceis assim
intercalam-se entre as fáceis pra gente não acomodar. Ontem lembrei de você e,
de certa forma, desejei que estivesse perto, embora nem conseguisse imaginar
onde pudesse estar. Hoje, porém, não te vejo mais como ontem porque, simplesmente, já não sou
a mesma de há vinte e quatro horas atrás.
Difícil vai ser te dizer que você escolheu não escolher, mas nem
imagina que fez a pior de todas as escolhas. Não sei se o destino por si só será capaz de resolver por
nós - ou por você. Eu escolhi por mim e, definitivamente, não te lembrarei mais como ontem porque um dia precisamos acordar pro sol que brilha insistente a cada manhã
pós-noite-linda-e-estrelada. De ontem em diante, as Constelações ainda me lembrarão você. Apenas. Difícil
não é se desfazer das coisas velhas guardadas na última gaveta, difícil mesmo é
abrir mão daquilo que, na verdade, nunca foi seu. Difícil se doar. Fácil se
doer.
Comentários
Linda história.
Beijo!