Futuro do pretérito


Coisa de pele. Coisa de olhar. Coisa minha. Coisa sua. Coisa nossa, sem, antes, nem precisar ser. Sempre foi difícil dizer não à pessoa dona da mania ordinária de te ligar na madrugada com um fundo musical baixinho e uma voz rouca muito familiar ao dizer, quase num sussurro, um ‘oi, amor...’. Sempre foi difícil dizer não à pessoa do outro lado da linha que, mesmo te acordando (quando você odeia ser acordada assim, no meio da noite), te faz dormir de volta, feliz. Ou seja, música pra se ouvir de olhos fechados mais tua voz meio rouca do outro lado da linha dizendo ‘oi, amor’ mais a minha não-vontade de resistir é igual a ‘já era’! Conta simples.
...
Nos braços dele, ela não tinha mais medo de nada. No abraço dele, ela encontrava abrigo e sempre se aninhava. Mas o problema do moço era ir embora. Sempre. Parecia ontem, mas já fazia algum tempo. É que, embora o tempo passe e suas saudades não se cruzem, é sempre a primeira vez aquela última vez.
...
Ele tem os olhos de mar, de infinito, calmaria e tempestade. Ele é a própria calmaria e a tempestade, é o próprio mar, o céu; ele é paz e agonia, é dia e noite, é a mais milimetricamente perfeita combinação dos contrários. E só, somente dele, são perdoados os erros de português que se acumulam na minha caixa de entrada. Ele tem o trapézio de-li-ne-a-da-men-te perfeito. Sim, tem. Eu disse erros de português? (Tá, parei).
Ele poderia ser mais complexo, mas a simplicidade o escolheu e, nele, faz morada. Ele poderia não ir, mas não foi feito pra ficar. Ele poderia não jogar tão sujo, mas sempre deixa a barba por fazer. Poderia não manchar minha poesia, rimar meu verso, dançar o mesmo passo e não me ligar mais às duas da madrugada, mas só poderia. A gente se completa, mas não se basta. Poderíamos ser o amor da vida um do outro, se acreditássemos nisso. É bonito, mas não é amor. Se virar, estraga.

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