Por trás dos olhos

Fecho os olhos e sinto tua respiração quente ao tocar meus lábios, tua barba por fazer me arranha levemente a face, deslizando da orelha ao pescoço, o que me faz arrepiar suavemente. De olhos abertos, mergulho no mar dos teus, que hoje brilham feito céu estrelado, reluzindo feito a lua nas águas verdes dos mares. Teus dedos embrenham-se pelos meus cabelos, descendo até a nuca, em um toque carinhoso e pretensioso que me faz viajar. Teus braços fortes me enlaçam em um ninho de proteção e desejo e eu sinto teu coração bater acelerado junto ao meu, num compasso não ritmado, mas completo. É quando não te pertenço que me sinto tua, e é só quando sou tua que me reconheço de verdade. Gosto da curva maliciosa que se faz no teu sorriso e da combinação contrária dos teus cabelos tão escuros que caem desalinhados por entre teus olhos tão claros. Gosto quando chega sem avisar, envolto num sorriso e braços largos. Gosto, especialmente, quando chega.

O sol entrou rasgando pelo quarto, sacudindo as cortinas, iluminando o dia e aquecendo o coração. De olhos fechados ainda te vejo passar. O suave balançar dos cabelos acalenta, enquanto a dor invade, lava e leva o peito. Por trás dos olhos eu tenho tudo guardado de ti, que é pra não esquecer nenhum detalhe, detalhes que passam e repassam em preto e branco entre o fechar das pálpebras, alguns mais nítidos, outros não – o tempo é o senhor da cura e do desgaste. Por trás das lembranças eu carrego a saudade e a vontade de voltar, onde já não se tem mais chão, já não se tem mais lugar.

Sonhei com você, mas não saberia descrever com tanta precisão. Apenas, ao abrir meus olhos ainda meio borrados da maquiagem de ontem, você foi o primeiro pensamento que me veio à mente. Permaneci aninhada entre os lençóis. Chorei saudade. Chorei vontade de adormecer de novo e mergulhar no meu mar de lembranças.

Abri os olhos, o dia continua ali a me desafiar. O sol, que vem e vai embora todos os dias, ficou ali pra me mostrar que as coisas lindas, para serem lindas, precisam mesmo ser finitas. E que a finitude se perde no infinito das lembranças para que exista a saudade, para que a gente eternize essas coisas tão lindas que, mesmo tendo fim, continuam sua história dentro de nós.

Comentários

blogger disse…
O tempo, a finitude... menciono essas duas palavras chaves porque elas contrastam com o nosso anseio de que certas situações permaneçam.
Deise Lima disse…
É duro de aceitar que tudo mesmo é finito, e por isso que a vida é vida. Mas vamos seguindo!
Que intensidade de texto, viu moça?!
Abraço!!
Cheio de sentimento, de intensidade, de emoção marcante. É sempre a saudade a nos apertar, de algo, de alguém, de vivências inteiras, com paixão. A vontade sempre retorna, os olhares nos trazem o sabor dos dias de ontem. Alma quer paz, conforto, sossego, de novo. Mas nem sempre é possível, mesmo que embora tudo pareça infinito.

Beijo Si!!

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